Sebastião Alvino Colomarte*
Muito se debate sobre a qualificação dos educadores. Ouvimos freqüentemente inflamados discursos acerca da realidade da educação brasileira. No entanto, percebe-se que há muito a ser feito para melhoria nessa área - reconhecidamente fator preponderante para desenvolvimento socioeconômico e cultural de um país.
Convivemos, há décadas, com o desdém com que é tratada uma parte absolutamente crucial na formação dos educadores: o Estágio. Esse é um período em que, por lei, o futuro educador deveria passar por escolas, aperfeiçoando a sua prática junto aos educadores já experientes. Embora a Lei 9.394/96 - que trata das diretrizes básicas da educação nacional - estabelecer em seu artigo 61, item I, a associação entre teoria e prática, e o artigo 65 enfatizar que a formação incluirá prática do ensino de, no mínimo, trezentas horas; não é o que acontece na maioria das instituições de ensino.
Como estudante do curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, na década de setenta, fiz estágio de seis meses no Colégio Tiradentes da Polícia Militar, onde aprendi com os mais experientes os desafios de uma sala de aula. Hoje, o futuro educador sai da faculdade com notória defasagem para exercer o que o mercado de trabalho exige, sem os instrumentos necessários para ministrar uma aula que corresponda ao conhecimento demandado.
A pesquisa que deu origem ao livro intitulado "A escola vista por dentro" mostra que mais de 80% dos educadores alfabetizadores aprenderam o ofício "na prática" ou com o decorrer da experiência. Mas o que fazer para mudar esse quadro? Basicamente, o oposto do que fazemos hoje, direcionando a metodologia dos cursos de formação de educadores para a realidade prática da sala de aula.
Não há no Brasil uma consciência de que formar bem os educadores seja fundamental, e que o resultado desse investimento consiste em algo valioso e de prestígio. Nossas escolas não estão engajadas no desafio de desenvolver cursos eficazes para formação dos educadores.
O governo precisa criar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Educação, estimulando a criação de eficientes cursos de formação de educadores. Para isso, é primordial considerá-la como necessidade básica, constante; jamais como bem supérfluo e/ou esporádico, promovendo e tornando reconhecido o valor do ensino em todos os seus níveis.
Caberá ao Ministério da Educação elevar a importância dos cursos de formação de educadores dentro das universidades, visando transformar o conhecimento (conteúdo e didática) no cotidiano do ambiente escolar.
E uma ferramenta que deve ser adotada como elemento fundamental no processo é o estágio, que por ser uma atividade didático-pedagógica requer sua aplicabilidade sob rigorosos acompanhamento e supervisão. O futuro educador precisa demonstrar suas aptidões no estágio, para receber a certificação de suas habilidades. A esse profissional foi contemplado o legado da responsabilidade de educar nossos filhos, e essa tarefa agrega significativo grau de complexidade para formar um cidadão.
Não é verdade que os alunos escolhem o magistério por falta de alternativa. Segundo pesquisa do Instituto Paulo Montenegro, publicada na revista Veja do mês de dezembro último, 78% dos educadores dizem ter orgulho da profissão e 72% se declaram apaixonados pela profissão. E, aqui, eu me incluo!
*Educador, Superintendente-Adjunto do Centro de Integração Empresa-Escola de Minas Gerais
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