Luiz Gonzaga Bertelli*
Dois em cada dez professores não têm a formação acadêmica exigida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), segundo a qual docentes do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do médio devem possuir, no mínimo, um diploma universitário, mas 208 mil professores dessas séries concluíram apenas o nível fundamental ou o médio. Tal realidade é confirmada pelo índice apurado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep): 16,8% dos educadores são detentores dessa deficiência curricular. A situação é mais grave na Bahia, onde a taxa supera os 50%, e menos em São Paulo, com 2,25%. É preocupante notar a estagnação da média nacional, que permanece a mesma desde 2007, bem como o desinteresse dos jovens em seguir a carreira do magistério – opção de apenas 5% dos melhores alunos que cogitam ir para o ramo da educação, de acordo com estudo da Fundação Lemann.
É, enfim, uma bomba-relógio cujo efeito comprometerá, a médio e longo prazos, a sustentabilidade do desenvolvimento econômico. Isso porque a falta de capacitação dos professores defasa a educação de jovens que em poucos anos integrarão o corpo discente dos campi universitários. Sem uma boa base do ensino fundamental e médio, o estudante terá dificuldade para acompanhar o salto de complexidade das matérias, o que poderá levá-lo a abandonar o curso, como já acontece com grande regularidade.
Não consola saber que esse não é um fato novo e multiplicam-se os exemplos de alunos brilhantes vindos dos mais diversos extratos sociais. Portanto, é para se comemorar a decisão do Ministério da Educação (MEC) de regulamentar a prova nacional para ingresso na carreira docente, que passará a ser aplicada a partir de 2012. O objetivo é selecionar, a partir da nota, os mais aptos entre os candidatos para ocupar a cadeira de professor na rede pública de ensino. A ação não solucionará outros graves problemas estruturais da educação – como a implantação de políticas de meritocracia ou a melhoria na gestão das escolas –, mas confirma que a questão está entre as prioridades da presidente Dilma, como bem salientou nos primeiros discursos. A educação é o mais importante e mais antigo gargalo brasileiro e precisa ser eliminado o quanto antes.
*presidente executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e diretor da Fiesp
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