José Pastore*
Em 28 de janeiro deste ano, publiquei nesta coluna um artigo que previa a entrada dos drones nos ambientes de trabalho em dois ou três anos. Errei redondamente. A imprensa noticia que empresas chinesas e americanas estão produzindo e vendendo drones em massa.
Os drones são aparelhos voadores não tripulados que até pouco tempo atrás eram usados apenas em operações de guerra. Hoje, os americanos vêm utilizando esses aparelhos para fiscalizar e patrulhar a fronteira com o México e, assim, identificar em tempo real quem tenta entrar ilegalmente nos EUA. Em vários países, os drones fazem fotografias de alta definição e mapas tridimensionais de regiões inóspitas e de difícil acesso. Eles têm sido usados também para detectar problemas de trânsito nas grandes cidades, mudanças climáticas, incêndios em florestas fechadas e riscos de manadas de animais a serem protegidos.
De igual utilidade é o seu uso para monitorar as atividades agrícolas - desde a preparação da terra até a colheita -, assim como para fazer sondagens de solo, água e florestas em áreas remotas a serem usadas em estudos do meio ambiente. Os drones são utilizados igualmente na produção de filmes e programas de televisão e também na construção civil, onde funcionam como inspetores de qualidade e de segurança de obras e, sobretudo, de trabalhadores. Com a possibilidade de fazer previsões mais acuradas de desastres ambientais (furacões, tsunamis, enchentes, etc.), os drones estão facilitando a implementação de operações de evacuação de comunidades atingidas, sem pôr em risco a vida humana.
Em suma, sem tripulantes, esses aparelhos são capazes de captar, fotografar e monitorar uma imensidão de atividades realizadas ao ar livre. Algumas empresas já começam a dar passos mais arrojados, como, por exemplo, a Amazon.com, que se prepara para fazer entregas de livros, CDs, DVDs e outros produtos leves por meio dos drones. Empresas de outros ramos estudam seguir o mesmo caminho.
Os produtores de drones sabem que têm pela frente um mercado promissor. Avançam nas inovações e reduzem os preços. Os aparelhos de 1 m2 estão sendo vendidos por US$ 1 mil cada um - equipados com câmeras fotográficas e filmadoras avançadas. É um preço muito baixo quando se considera o que tais aparelhos podem fazer.
Os negócios das empresas chinesas explodiram. A DJI Technology Co., por exemplo, começou a fabricar drones em 2011 com 90 funcionários e uma receita de US$ 4,2 milhões. Em 2013, operou com 1.240 funcionários e faturou US$ 130 milhões! Neste ano, está com 2.800 e não para de crescer (Empresa chinesa é líder mundial num novo segmento de consumo: drones, jornal Valor, 12/11/2014).
Tudo isso impacta o mundo do trabalho. Os drones que fiscalizam fronteiras e monitoram o trânsito substituem milhares de policiais. Os que observam incêndios substituem centenas de bombeiros. Os que monitoram a agricultura e a construção civil dispensam chefes e supervisores. Os que entregam mercadorias entram no lugar de motoristas e ajudantes.
Além de poderem trabalhar em áreas a que o ser humano não tem acesso, o uso de drones é uma resposta à falta de mão de obra e ao encarecimento do fator trabalho que se observa em toda parte, inclusive no Brasil.
Se, de um lado, esses artefatos substituem os trabalhadores, de outro, eles aumentam a produtividade do trabalho, a capacidade de investir das empresas e de gerar oportunidades de trabalho em outras áreas, em especial no setor de serviços. Num primeiro momento, são atividades que demandam trabalho pouco qualificado, mas, com o passar do tempo, exigirão um bom nível de capacitação. Novamente, a educação será fundamental para manter as pessoas trabalhando. Está aí mais um desafio para o nosso precário sistema de ensino.
*Professor da Universidade de São Paulo, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomércio-SP e membro da Academia Paulista de Letras