Oportunidade! Interpretada de várias formas, sonhada por várias pessoas, conquistada por quem luta. Faz-se necessário acreditar! Por mais que as portas se fechem e, ao se fecharem, tudo fique escuro. E quando ficar escuro, a realidade vier à tona. As portas deixam de ser portas e se transformam em grades. E você está trancado, engaiolado, como um animal, consequência de seus atos. A primeira palavra do dicionário passa a ser desistir. Conjugada no presente, no futuro e até no pretérito imperfeito. Mais do que conjugada, passa a ser vivida.
Ao enxugar as lágrimas, levantar a cabeça e dar o primeiro passo, tudo muda. Você é a ovelha branca em meio às negras. Então, quando ela vem, a tão esperada oportunidade, a que te dá ânimo, forças para se reerguer, e você a agarra com unhas e dentes, a vitória é inevitável.
Mas, afinal, o que dizer à sociedade? Investir em programas de profissionalização, para jovens privados de liberdade? Ressocialização? Não! Isso não existe. Eles têm que sofrer.
Para quem cometeu um erro, está pagando e precisa de ajuda, estas não são as palavras mais agradáveis para se ouvir.
Quebrando os estereótipos e com o intuito de transformar o olhar preconceituoso, é assim que o CIEE está fazendo. Mais uma vez se renovando e investindo em jovens, como eu, em cumprimento de medida socioeducativa, que só precisava de uma “oportunidade” para mudar e mostrar que é possível, sim, ser ressocializado. Sendo comprovado o ditado “a esperança é a última que morre”, quebrando os olhares preconceituosos e gesticulando não com o indicador, mas, sim, com o polegar. Um pouco que reflete no muito.
Lembro muito bem que, no Módulo Inicial do programa, as coisas foram bem difíceis. Eu não era mais um jovem preso, tinha que assumir o papel de mais um jovem normal em meio a tantos. Estava disfarçado. Ninguém podia saber de nada. Não era fácil “pegar o trem andando”. Um jovem, como eu, vindo do interior, acompanhar o ritmo da cidade grande, as maneiras de falar, de se vestir, de interagir e ser visto como igual em meio às diferenças. Estava até me acostumando, até me enrolar na catraca do ônibus, sem saber passar o VEM. As tradicionais perguntas sempre “rolam”: Qual seu nome? De onde você é? Mora aonde? Vamos marcar uma pizzaria?
Sempre a mesma coisa. Desculpa em cima de desculpa. Mentira em cima de mentira. Mas eu não podia falar! E se isso gerasse preconceito? E se quando a “galera” soubesse, não quisesse mais falar comigo? E se os professores se recusarem a dar aula? E aí? Como será que eu ficaria? O que eu ia passar para aqueles que estavam por trás dos muros, torcendo por mim? A resposta para estas perguntas o tempo me deu. Coincidência ou hipocrisia! Mas, para todas as perguntas, a resposta é só uma: a verdade! Em meio aos obstáculos, ela deve prevalecer. Você não sabe o quanto é bom ser visto com novos olhares! Olhares de esperança, que passam a sensação de um: Eu acredito em você! Você consegue!
Os professores se tornam amigos e, ao se tornarem amigos, passam a ser confidentes fiéis. Te escutam, aconselham, entendem e não te julgam. Para eles, não importa o que você fez, o que importa é o que vai fazer de agora em diante. E não só eles, mas a turma também. Sem eles, eu não estaria conseguindo. Sem o CIEE, eu não estaria conseguindo. Têm horas que me pego parado no tempo, pensando como que eu conquistei tudo isso e cheguei até aqui. As coisas estavam péssimas e do nada... seleção, entrevista, assinatura de contrato, empregado!
É muito fácil ser exemplo em meio aos exemplos. Residir em um presídio e ser exemplo dentro dele. Onde quem te olha sente inveja, outros vontade de estar no teu lugar, outros criam estímulo...
Não é difícil, é querer! As experiências da vida nos ensinam muitas coisas, uma delas é que a dificuldade é criada por nós mesmos.
Aos 11 anos, o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, disse à sua avó: Vovó! Quando eu crescer, vou ser presidente do país.
E ela respondeu: Obama, se queres, tu podes.
Hoje, muitos detentos me dizem: “Mano”, só queria viver em paz. Ser um doutor, um advogado, ser um pai de família e, se preciso for, até varrer a rua, “mano”, mas eu quero ser honesto. Como é que eu faço?
Eu digo: - Enquanto estivermos juntos, “brother”, conte comigo. E, um dia, quando nossa vida voltar ao normal e cada um seguir seu caminho, lembre-se que nada é fácil, mas também não é difícil. Basta querer! Se queres, tu podes.
Graças ao CIEE, hoje sou empregado como Auxiliar Administrativo na COMPESA (Companhia Pernambucana de Saneamento), conquistei muitos vínculos, nesse período que estou aqui, e não será uma experiência momentânea, mas algo que me marcou e que hei de levar para a vida toda.
Aprendiz: E.L.C.S – 16 anos.